Yes, I'm a sellout.

Wednesday, October 21, 2009

Saudades...

No outro dia estava a passear perto das laranjeiras aqui do Algarve, em ruas menos viajadas, e o cheiro a terra, relva fresca e a casca de laranja, trouxe-me uma nostalgia.
Não sabia do que era. Dava por mim a olhar pela janela aberta para o verde à minha volta, a pensar para mim, como aquela visão me confortava...

Depois lembrei-me porque me fazia sentir assim. Sentia falta de ir ao vosso pomar, de desviar-me dos bichos na terra, das poças e pequenos riachos, de subir o escadote ou trepar a árvore com algum receio de cair.. de ver as rãs no tanque, do portão enferrujado a ranger ao abrir.. Do caminho esguio onde íamos todos em fila, com cuidado para não escorregar nas pedras húmidas.. De ter cuidado ao apanhar as laranjas porque tenho medo das aranhas que possam estar penduradas nos frutos.. Da minha mãe me vir trazer laranjas recém-apanhadas para comer, do canavial à volta do pomar.. De ver pirilampos pela primeira vez.. heheh.. de perder o telemóvel no pomar, que deu azo a uma árvore que ainda hoje dá telemóveis, como ainda hoje brincamos.. De vos ver recuperar a vida, a energia com que andavam por aquele pomar como um peixe na água, tanto conhecimento encerrado na estoicidade da vida do campo... e de alguma forma perdido para sempre.. O amor à terra como aos vossos... as mãos habituadas ao toque da fruta, das árvores, da enxada... Mãos que nunca foram feitas para amar, mas que não evitavam que esses corações brilhassem como estrelas...

Lamento o tempo que não passei convosco... Nem imagino como os meus pais sobrevivem. Se de vez em quando me atravessa a ideia de viver sem eles, passo dias triste até conseguir distrair-me o suficiente para afastar essas ideias...

Espero que estivessem orgulhosos de mim... Espero imenso que apesar de todos os conselhos que me davam, em que penso todos os dias, me amem como sou...

Como eu vos amo como são...

Tenho saudades vossas... temos todos....



Não posso deixar passar o tempo sem dizer o que penso... Tenho que arranjar isto... Tenho que fazer telefonemas... escrever cartas... há tanto por dizer... Não posso deixar passar o tempo...

Wednesday, October 14, 2009

(não) rotina

Todos os dias tenho um problema novo à minha frente. Todos os dias tenho de pensar numa forma de resolver uma coisa nova que me aparece. É um trabalho maravilhoso. Mas não só um trabalho. É uma filosofia.
Todos os dias, em (quase) tudo o que faço, penso em como faço as coisas, e em como tenho que as fazer, e porque as faço assim.
Todos os dias dezenas de ideias me surgem de formas novas e melhores de fazer as tarefas rotineiras do dia-a-dia. Ideias que nem toda a gente tem, ideias que grande parte nem quer ter, pois implica um fenómeno muito temido: a mudança.
Todos os dias penso nas coisas que gosto, que estão bem. E tenho medo que mudem para pior. E assumo, naturalmente, que qualquer mudança nessas coisas será para pior. E temo a mudança. Também temo a mudança. Mas com um pouco de esforço ultrapasso esse medo para alcançar a verdade: apenas temo a mudança para pior.
No entanto, sou bastante entusiástico (penso que quem me conhece pode comprová-lo) nas coisas que penso que estão mal, ou que podiam estar melhores. Porque oiço muita gente dizer "Ao menos não está pior." e entristece-me que as pessoas se contentem com tão pouco... Somos um grupo tão brilhante.. Uma constelação de planetas, luas, que ainda não se aperceberam que são estrelas.. Que orbitam em vez de servirem de órbita... e tudo isto porque não vêm o que eu vejo nelas. Porque apesar de todas as ideias que tenho todos os dias, não penso que isto seja algo de extraordinário. Penso que devíamos todos os dias lutar para mudar a rotina, apagá-la do dicionário. Só assim poderemos mudar, sem nos encostarmos no conforto da preguiça mental. Acredito, isso sim, que todos à minha volta conseguem mudar as suas vidas, e talvez até as dos outros.
Não podemos deixar que outros pensem por nós, que outros decidam por nós. Não podemos deixar que outros vivam por nós. Todos os minutos que passamos na rotina é vida que nos é tirada.
Há coisas fundamentalmente mal na nossa cultura e na nossa sociedade. Há imensas. Uma quantidade absurda.
Coisas que estão mal. Que simplesmente não estão bem.

Que podiam estar melhor, se você pensasse nelas.

E me dissesse o que acha.

Não vamos desligar o cérebro depois de um dia de aulas ou trabalho. Não vamos deixar que a preguiça e o cansaço físico nos tirem a agilidade mental. Acredito no potencial humano, e acredito no potencial da Humanidade. Como duas coisas distintas. Uma dormente, e uma doente, agarrando-se à vida através de poucos selectos no mundo, à espera que a primeira desperte.

Tudo merece pensamento. As futilidades. As controvérsias. As coisas estabelecidas. Principalmente as coisas estabelecidas. E as bases em que assentamos a nossa vida.
A nossa filosofia pessoal nunca deve ser definida. Porque podemos todos ser enormes, mas a maioria não está a ocupar espaço nenhum.

E não se preocupem, há espaço para todos!