Eu, pessoalmente, não sou (completamente) contra as portagens na A22. Eu entendo que todos temos que pagar um pouco mais para restaurar o estado financeiro de Portugal. E eu entendo que a culpa não é maioritariamente minha ou de pessoas como eu, e, verdade seja dita, isso revolta-me bastante.
Apesar disso, entendo que "valores mais altos se alevantam", como a imagem de Portugal aos olhos do Mundo, e por isso decido adiar a perseguição dos culpados (porque as culpas virão para quem as merece) até voltarmos a ser uma nação que se possa orgulhar do seu nome no estrangeiro.
No entanto, aposto que as portagens na A22 não estão a surtir o inchaço da tesouraria portuguesa como se esperava. As pessoas passaram a evitar a A22, pelos seus elevados custos, e a seguir pela EN125, a "estrada da morte", a única alternativa - não, opção - para uma viagem através do Algarve.
Porque essas são as estradas que temos no Algarve, se queremos ir a algum lado. A A22 ou a EN125.
Para quem nunca andou na EN125, é uma estrada nacional, com uma faixa em cada sentido, que atravessa cerca de 20 ou 30 (e posso estar a subestimar este número) cidades, aldeias e vilas, de uma ponta à outra do Algarve.
Por agora, no Inverno, a viagem Portimão-Faro (a que pessoalmente mais vezes fiz) faz-se "bem" na EN125 no dobro do tempo que se faz na A22. No Inverno. Como será no Verão?
"E porque não vamos na A22?", perguntar-se-ão alguns (que talvez não tenham prestado atenção às notícias nos últimos anos, ou que sejam deveras abastados para comportar tais custos), talvez com razão, visto que a opção ainda lá está.
Uma viagem na A22 de Portimão a Faro custa cerca de 5€, para um carro normal, pequeno, Classe 1. Uma viagem de volta, o mesmo custa. Isto significa um custo diário de 10€ por pessoa (sem contar com custos de combustível (que está barato!)). Por digamos 20 dias úteis por mês, serão 200€. Isto são 200€ retirados mensalmente do salário de qualquer pessoa que trabalhe em Faro e more em Portimão. (Porque com o mercado como está, temos de aceitar trabalho onde ele apareça, não é?)
Em cada viagem de Portimão a Faro e de volta, por experiência própria, consome-se cerca de 1/4 de tanque. Isto significa que, vá, com muito cuidado, consegue-se usar um tanque de combustível por semana, 4 por mês. Ainda ontem atestei o meu depósito por uns meros 80 €. Gasolina sem chumbo 95, é certo, não era gasóleo, mas que fosse, seriam uns 70 €. 70 x 4 = 280 €.
O salário mínimo em portugal é de 450€, se não me engano. Se deste salário retirarmos as portagens e o combustível, já estaremos em dívida 30 € (200 + 280 = 480).
E voltamos a outra pergunta "Porque não acordam mais cedo e vão pela 125, então?"
É o que temos feito, meus caros amigos. E tem resultado. (Até já dizem que o estado meteu a polícia vigilante na 125 a tentar "afugentar" condutores de volta à A22) Isto porque é Inverno, e "só" levamos o dobro do tempo a chegar!
No Verão, não quero imaginar como serão as filas na 125. (E, pessoal do centro e norte, vocês também vão levar com isto em Agosto, não se esqueçam!)
Mas o meu foco nem sequer são as pessoas, os indivíduos, até porque há outros problemas mais sérios.
O que acontece, por exemplo, a uma empresa que trabalhe no Algarve? Vá, que não seja um restaurante...
Qualquer empresa que trabalhe no Algarve, para ser viável (e ter uma clientela decente), tem de operar no Algarve inteiro. Não pode ser uma lojinha local. E para tal, tem de se deslocar às cidades ao longo do Algarve.
Imagine uma empresa a pagar os custos de atravessar a A22 (para a qual, até agora, não há regimes especiais para empresas) a fazer entregas aos seus clientes.
Se fosse o cliente, o que escolheria? Receber as suas entregas, fazer as suas reuniões, fazer os seus negócios entre 30 minutos a 3 horas atrasadas? (porque a empresa tem que manter a mesma produção e o mesmo preço (até porque os impostos sobem), mas ir pela 125 que leva o dobro do tempo (e quanto mais tarde a entrega, mais atrasada vai (por acumulação de atrasos))) Ou prefere que a empresa lhe cobre as portagens da viagem?
Obviamente vai querer que a empresa ela própria comporte os custos da portagem. Mas como penso que seja claro, não é propriamente uma opção viável para uma empresa que se queira manter competitiva. Ou isso, ou vai à falência este ano.
Também podia realçar que o Algarve é o núcleo de Turismo de Portugal. Temos, certamente, uma qualidade de praias e golfe e gastronomia que alicia bastantes turistas. Mas dada a escolha entre um destino como o nosso, a pagar quantias absurdas por viagens de 50 km, e um destino como a vizinha Espanha, que não cobra nada (por "ainda" que seja, porque deverá ser obrigada ao mesmo), o turista irá desertar o Algarve. Não só não se angariaram fundos das portagens dos habitantes locais, como se perderam turistas que dão vida a este sítio (Portugal, não só o Algarve), como, e pior que tudo, se forçou a mudança dos Portugueses da A22 para a "estrada da morte". (Será um género de controlo de população?)
A minha opinião continua a manter-se, apesar deste "rant" enorme acerca das portagens e dos seus efeitos, que as portagens SÃO aceitáveis, e que acredito e concordo que sejam colocadas em vigor.
Mas quando ouvi pela primeira vez falar nelas pensei "ah, vão cobrar 10, 20 cêntimos por pórtico, e alguns escolhem a 125, mas não custa assim tanto ir na A22".
Não têm gente nas portagens. São electrónicas. Os custos que têm são de manutenção. Não há salários a pagar. (Há que pagar os pórticos de volta, mas com o volume de tráfego na A22, continuo a acreditar que seria possível) Porque é que é necessário extorquir (peço desculpa, mas é verdade) tanto dinheiro ao condutor?
Não teria sido melhor limitar um pouco a ganância, e ganhar uns trocos?
A EN125 não é uma "opção". É uma rua. Passa pelo centro de Portimão, Lagoa, Guia, Faro, Alcantarilha, Olhão, Lagos, e muitas outras (porque eu não sou assim tão versado nas cidades do Algarve) que acumulam o seu tráfego local ao tráfego regional.
Portagens, sim, mas com conta, peso e medida.
(Não conheço as situações das outras SCUTs que começaram a ser portajadas. Espero que estejam em melhor estado que nós)
Peço desculpa pelo desabafo.
Tuesday, January 24, 2012
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