Yes, I'm a sellout.

Friday, October 20, 2006

Quero aqui dizer, hã..

Bom dia.

Estou a comunicar-lhes uma espécie de renascimento. A esperança que me restava fez-se valer. Lentamente ganho forças e alento. Como se passasse de cinzas a lume... Ainda é cedo para ter a certeza, mas se tudo correr bem em breve (espero) posso voltar a ser uma pessoa completa.

É que no decorrer dos ultimos quatro anos fui vítima de uma devastação da alma, por parte dos meus progenitores, sem que eles dessem por isso. Neste tempo todo nunca lhes quis dizer nada, porque mais do que tudo, não os queria magoar... É que eu cresci numa família onde a palavra dita não tem quase valor. As coisas são ditas e depois esquecidas. O meu azar é que eu não apanhei esse hábito. A minha cara-metade cedo se fez valer e mostrou-me o valor das palavras quando eu ainda não tinha toda a noção do seu impacto.

Sei que há quatro anos aprendi qualquer coisa... Não me lembro já o que foi, mas deixou-me com uma impressao completamente diferente do mundo. E não para o melhor. E à medida que isso me entristecia, os meus pais começavam a falar comigo como se fosse um adulto. Descobri que todos os dias em que tinha aulas de manhã, eles nunca discutiam, para eu ir para a escola com a mente descansada. Escusado será dizer, que a partir daí, esse princípio foi descurado. E eu, uma daquelas pessoas que tem medo que os pais se divorciem, não importa a sua idade, porque de alguma forma, o seu comportamento reflecte o meu futuro, comecei a piorar o meu já autodestrutivo modo de agir. Diziam que eu já não ria, mas isso já não era culpa minha. Bem sei que não posso culpá-los pelo meu consequente declínio a nível académico, mas tenho hoje a noção que de facto me afectavam, porque ontem, ao invés de pensar no que me estava a acontecer, durante uma aula um pouco mais parada, comecei a pensar num amigo meu, e noutras coisas. O que é mau nisto acontecer é eu ter dado por isso. Fiquei feliz, mas espero que este meu "conhecimento de que estou a sonhar" não afecte a minha recuperação.

De qualquer forma, com o já referido declínio da minha situação académica, as suas armas começavam a apontar para mim. Nunca fui um estudante que estudasse, mas nunca tinha tido maus resultados. Depois de um ano quase sem falhas, passei para um ano quase sem sucessos. Compreendo a revolta deles. Sinto-me sempre mal porque são eles que pagam os meus estudos. Tanto a revolta deles como a minha culpa me faziam sentir ainda pior. Mas no meu estado, ainda acho que fiz bem em faltar a aulas onde não me conseguia concentrar no que fazia, para passar algum tempo a relaxar e a divertir-me com os meus colegas. Nunca me culpo pelo que fiz. Só pelo que diziam de mim. Tudo o que fiz era absolutamente necessário à minha sobrevivência instantânea. Mesmo que a custo do futuro.

Depois começaram as obrigações. Tinha de trabalhar, mas não tinha inclinação para trabalhar com eles. O ramo não me interessa muito. A interpretação deles disto é que nunca lhes dou valor algum, que tudo o que fazem é em vão, porque eu só quero mandar aquilo tudo abaixo. Nível de moral a descer. Pensem na minha cara ao jantar quando tudo o que se fala é sobre trabalho, e depois passa-se para outro tema que se tornava habitual, eu. Começavam a fazer perguntas, tomando um tom cada vez mais agressivo. Tinha de ficar calado. Pelo bem de todos. Não conseguia fazer-lhes aquilo. O que esperava era acabar o curso e depois mudar-me para outro sítio. Também não suporto a ideia de pensarem que não gosto deles ou de estar com eles. (este post ja está a ficar comprido) .

Tentem compreender que o que eu sofria era de algo que podia ser evitado. E eu sabia-o. Isso agravava a minha dor. Sabia que não tinha de me sentir assim. Que eu é que de certa forma escolhia este estado.
A certo ponto, entrei num estado de graça. Quando conduzia, imaginava-me a bater contra outros ou contra coisas, a imaginar a minha morte. Quando eles me batalhavam a mente, imaginava-me dar uma cabeçada na mesa de forma a partir o crânio. Via na minha mente o meu próprio crânio a partir-se... Quando olhava da janela, quando agarrava em facas, enfim. as opções eram ilimitadas. A minha raiva culminava em picos de auto agressão. Leve, porque ainda tenho algum juízo... O meu escape eram os jogos de computador. Jogos agressivos. Infelizmente usados por eles para de novo me baixar a moral. Eram os jogos de computador e tu. Sabes bem.

Por fim, num dia fatídico, em que a minha tristeza começava a transparecer na faculdade, quando normalmente a escondia sob uma máscara, para depois chegar a casa e sentir-me ainda pior, voltei para casa, para uma última vez levar um murro psicológico... Ao jantar. Depois de jantar, levantei-me sem autorização, fui para um canto da casa, e deitei-me em posição fetal. A minha mãe culpava-me e ao meu pai de termos afastado o meu irmão de casa nessa noite. Sabia que tinha culpa, mas o meu irmão também nunca foi muito amigável comigo, especialmente nestes tempos, em que as minhas respostas não eram mais que um murmúrio. Naquele sítio, eu deixava o meu coração sangrar. A minha mãe veio ter comigo, após ter rugido mais umas pragas contra mim na cozinha, alimentando o meu gerador de dor, e não consegui conter-me... A minha sorte foi que apesar de não me conseguir conter, consegui salvá-la de algumas coisas... Pensei sempre o quanto me afectaria a mim se eu fosse fonte de tal dor a um filho meu... Por isso tentei poupá-la... Nunca sei porque faço isto...A minha vontade é de lhes jogar as minhas ruínas, que eu antes chamava mundo, em chamas e doença, para cima dela. Fiquei-me por a deixar espreitar pela fechadura.

Enfim, talvez seja o suficiente. Continuo a esperar que sim. Compreendo que há muita gente que sofre mais que eu. Mas não encontro outra dor que pudesse ser evitada... Uma condição imposta parece-me sempre uma questão de hábito. De vez em quando temos recaídas, mas geralmente penso que se aprende a viver com isso.. .penso... Agora quando me coloco no estado em que estava, sem saída aparente para além do tempo, (que estava seriamente intrincada na minha capacidade académica neste estado, coisa que seria de cerca de mais 5 anos) a minha dor era enorme. Eram os meus pais a fazer-me isto. Era eu a fazer-me isto. Era o meu irmão a fazer-me isto. E por fim era a hipótese de acabar com tudo, e a outra que me mostrava que podia simplesmente falar com eles. Mas sentir-me-ia culpado de lhes mostrar a minha dor.

Finalmente tudo acabou. Ou será que acabou? Às vezes, depois disto, sinto-me um louco dentro de uma casa de família, onde toda a gente é condescendente para mim, porque me passei dos carretos. Mas sempre é melhor que aquela situação.

Depois desta explicação para o meu estado aparente, talvez comecem a surgir posts de melhor humor.

Fica aí o som para a minha destruição -> Metallica - Dyer's Eve

1 comment:

Anonymous said...

A vida é sempre diferente daquilo que sonhámos, ou simplesmente daquilo que queremos para nós e par os outros.
Nem sempre é fácil lidar com isso. Mas, mal ou bem, vamos sobrevivendo, umas vezes fazemos isso por nós, outras vezes pelos outros, mas vamos fazendo...

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